Quando falamos de oncologia, assunto tão delicado para a sociedade, também devemos voltar os olhares para o câncer infantojuvenil. No Brasil, ele já é a primeira causa de morte por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos, segundo o Governo.
O câncer na infância engloba um grupo de doenças que, de maneira descontrolada, proliferam células anormais em qualquer região do organismo. Os tumores nos jovens, geralmente, afetam o sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação, diferente dos adultos.
A boa notícia é que, devido à origem embrionária e suas células indiferenciadas, o câncer infantojuvenil responde melhor aos tratamentos atuais. Ter entendimento deste cenário contribui indiretamente na sobrevida dos pacientes.
No artigo de hoje, você irá compreender a realidade brasileira, os tipos de tumores sólidos na infância, os cuidados paliativos pediátricos, tratamentos inovadores e o papel da medicina na luta contra a doença. Leia Mais!
Cenário do câncer infantojuvenil no Brasil
No último triênio (2020/2022), o Instituto Nacional de Câncer estimava que, para cada ano, seriam diagnosticados cerca de 8.460 novos casos de câncer infantojuvenil no Brasil, sendo 4.310 em homens e 4.150 em mulheres.
Esse cálculo colocou a doença no topo do ranking de causas de mortes entre crianças e adolescentes, chegando a 1.423 para o sexo masculino e 1.131 para o sexo feminino, ou 2.554 no total.
A taxa de mortalidade em nosso país é quase o dobro que a dos Estados Unidos. A média brasileira alcança 43,4 mortes por milhão, enquanto a dos EUA é 22. A estatística torna-se ainda mais alarmante quando reiteramos que este patamar está estagnado há duas décadas.
O dado foi informado pela Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), que reforça a enorme disparidade entre regiões e raça/cor. Entenda melhor a seguir:
- Bahia, Minas Gerais e São Paulo: 40/milhão (média).
- Piauí, Roraima e Amapá: 60/milhão (média).
- Região Sudeste: serviços oncológicos com 80% ou mais na taxa de sobrevida.
- Região Centro-Oeste e Norte: abaixo de 50% de sobrevida.
- Crianças e adolescentes indígenas: 58% acima da média nacional – 67,7/milhão.
De acordo com o INCA, dentre os tipos de cânceres mais comuns entre os jovens estão: leucemia (28%), tumor no sistema nervoso central (26%), linfoma (85), neuroblastoma (8%), tumor de Wilms nos rins (6%), tumor de partes moles (6%), tumor ósseo (5%) e retinoblastoma nos olhos (3%).
Veja os principais tipos de tumores sólidos na infância
- Hepatoblastoma: tumor maligno que surge, primariamente, no fígado de crianças abaixo de três anos, sendo raro após o quinto ano de idade. É mais comum no sexo masculino. Com o tratamento atual, cerca de 70-80% das crianças podem ser curadas.
- Neuroblastoma: acomete, principalmente, jovens menores de 10 anos, incluindo os recém-nascidos e lactentes. A doença surge em geral nas glândulas adrenais, localizadas na parte superior do rim.
- Osteossarcoma: tumor maligno ósseo mais frequente na infância e adolescência, comumente associado a dor local, como também alterações ósseas.
- Sarcoma de Ewing: segundo tumor ósseo mais frequente, é altamente agressivo e pode também surgir em tecidos de partes moles (músculos, cartilagens).
- Tumor de Wilms: é o tipo de tumor renal mais comum na infância e pode acometer um ou ambos os rins.
Principais objetivos dos cuidados paliativos pediátricos
Surgido em 1998, o cuidado paliativo é o auxílio prestado aos pacientes com doenças crônicas ou que ameaçam a vida. Essa assistência é iniciada ainda no diagnóstico e envolve uma equipe multidisciplinar, que oferece suporte físico-emocional e social à criança e aos familiares.
No campo da oncologia, esses cuidados ganham ainda mais importância, pois asseguram o atendimento adequado em todas as fases da doença, incluindo amparo em caso de luto da família. Dentre os principais objetivos diante do câncer infantojuvenil, estão:
- Conter a dor e outros sintomas físicos com um diagnóstico precoce e preciso.
- Instigar ações que exerçam a espiritualidade do indivíduo, protegendo a sua autonomia e vontade.
- Potencializar o aumento da qualidade de vida.
- Ajudar na retirada de medidas intensivas de suporte quando a família e a equipe assistencial decidirem.
- Monitorar o cuidado de fim de vida dos pacientes internados a fim de proteger os seus interesses.
- Auxiliar o paciente e a família a lidarem da melhor forma com a doença e o tratamento.
Tratamento do câncer infantojuvenil
À medida de comparação, as formas de tratamento para crianças e adolescentes são as mesmas que as dos adultos. Envolvem cirurgia, quimioterapia e radioterapia. A única diferença diz respeito à faixa etária e suas complexidades.
Para isso, o Ministério da Saúde recomenda que as modalidades terapêuticas sejam realizadas em serviços habilitados em oncologia pediátrica, como Unidade ou Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon e Cacon), desde que estes sejam capazes de confirmar o diagnóstico do câncer infantojuvenil.
O fator positivo que merece ser mencionado é que, nos últimos 25 anos, a combinação dos tratamentos na criança e adolescente aumentaram significativamente a sobrevida a longo prazo, como você pode conferir a seguir.
80% das crianças e adolescentes podem ser curados
Graças aos avanços da medicina e da tecnologia, há um significativo progresso no tratamento do câncer na infância e adolescência. Aliado a isso, acompanhar os sintomas desde a fase inicial reduz complicações agudas e tardias.
Felizmente, hoje em dia, as chances de cura podem ultrapassar 80%, quando a doença for diagnosticada precocemente e tratada em centros especializados. Independentemente do tipo do tumor, grande parte dos pacientes ainda conquistará uma boa qualidade de vida.
Tratamento inovador de câncer, CART-T tem 1º produto no mercado e ganha novos estudos no país
No final do ano passado, o mercado brasileiro conheceu o primeiro produto da CAR-T, uma das terapias mais promissoras contra o câncer, pois usa as próprias células de defesa do paciente e as “reprograma” para ir de encontro ao seu alvo e combatê-lo.
O produto em questão foi desenvolvido pela farmacêutica suíça Novartis. Sua utilização é recomendada para crianças e jovens de até 25 anos com leucemia linfoblástica aguda de células B que não respondem ao tratamento padrão, como o transplante de medula óssea.
Esse avanço promete tornar-se uma potência, contudo, o acesso à terapia pode ser dificultado devido ao seu expressivo custo – R$ 2,1 milhões por paciente. O SUS não tem previsão de quando receberá o tratamento, mas ele deverá ser custeado por planos de saúde por se tratar de uma terapia oncológica de aplicação endovenosa.
Após a chegada da terapia CAR-T, três hospitais deram início a estudos clínicos de fase 3 (a mais avançada de uma pesquisa) para desenvolver outro produto, desta vez, contra o mieloma múltiplo.
Papel e desafios da medicina na luta contra o câncer infantil
Além de toda a sensibilidade para lidar com crianças e adolescentes, os médicos devem ser minuciosos no tratamento, para que os jovens não desenvolvam infecções decorrentes do tumor e da quimioterapia.
Outra parte fundamental do papel do profissional da saúde é realizar um atendimento prioritário, tanto ao paciente quanto aos seus familiares. Isso porque é um momento extremamente doloroso aos pais, portanto, mantenha-os informados e acolhidos.
Incentivar o diagnóstico precoce, com exames de rotina na infância, é essencial para iniciar o tratamento o mais rápido possível. Essa prática contribui para um crescimento saudável e impede o desenvolvimento de outras patologias.
Conhecer outros males que acometem os pequenos e estar por dentro da pediatria, bem como de outras áreas da saúde, prepara o médico para atuar nessas situações. Nos acompanhe e não perca nenhum tema do seu interesse!