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Meningite no Brasil: perfil epidemiológico entre idosos (2018-2023)

A meningite é uma doença inflamatória que afeta as meninges, componentes essenciais do sistema nervoso central. Acometendo principalmente os idosos, compreender seu panorama epidemiológico é crucial para implementar estratégias preventivas eficazes.

Um estudo ecológico foi conduzido com base nos dados do Sistema de Informações de Agravo de Notificação (SINAN), fornecidos pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram analisados casos notificados de meningite entre idosos, considerando variáveis como macrorregiões, faixa etária e sexo.

Como resultado, observou-se que, entre 2018 e 2023, 6.402 casos de meningite foram registrados em idosos, com uma tendência de maior incidência em 2018 e 2019, representando 45,2% do total.

A faixa etária mais afetada foi de 60-69 anos, com 57,2% das notificações, principalmente no sexo masculino (53,1%). A região Sudeste concentrou o maior número de casos (3.629).

Assim, os resultados evidenciam uma predominância de casos de meningite entre idosos do sexo masculino, com idades entre 60 e 69 anos, na região Sudeste do Brasil.

Sintomas

A meningite é uma síndrome grave que requer atendimento médico imediato ao se suspeitar de sintomas. Um médico pode diagnosticar a doença e recomendar o tratamento adequado.

  • Meningite bacteriana: Esta forma é mais grave e os sintomas incluem febre, dor de cabeça e rigidez de nuca. Podem surgir mal-estar, náusea, vômito, fotofobia e confusão. Sintomas graves incluem convulsões, delírio, tremores e coma. Em recém-nascidos, os sinais podem ser sutis, como irritabilidade, vômitos e letargia, além de fontanela protuberante e reflexos anormais.
  • Septicemia meningocócica: Além dos sintomas mencionados, como febre e dor, podem ocorrer fadiga, extremidades frias, calafrios, dores musculares, respiração rápida, diarreia e manchas vermelhas na pele.
  • Meningite viral: Os sintomas iniciais são semelhantes aos da bacteriana, com febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, náusea, vômito, fotofobia, irritabilidade e sonolência. Em bebês, sinais como irritação, vômito e letargia são comuns.
  • Meningite por parasitas: Pode causar dores de cabeça, rigidez de nuca, náuseas, vômitos, fotofobia e confusão, como outras formas.
  • Meningite por fungos: Os sintomas são semelhantes, incluindo febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, náusea, vômito, fotofobia e alterações mentais.

A meningite na história do Brasil

Os casos de meningite em idosos entre 2018 e 2023 trazem à tona a lembrança da maior epidemia de meningite já registrada no Brasil durante os anos 70.

Segundo Carlos Fidélis, historiador do Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), os primeiros casos surgiram por volta de 1970-1971 em Santo Amaro, Zona Sul paulista.

A censura durante a ditadura militar impediu a divulgação dessas informações, contribuindo para a propagação da doença, transmitida por secreções respiratórias, que se tornou epidêmica meses depois.

O estudo “A doença meningocócica em São Paulo, Brasil, no século XX”, de José Cássio de Moraes e Rita Barradas, revela que os casos de meningite meningocócica C na cidade saltaram de 2,16 para 29,38 por 100 mil habitantes entre 1970 e 1973.

A partir de 1974, a infecção explodiu com a circulação da meningite meningocócica A, resultando em uma sobreposição de surtos. Em 1974, a taxa de meningite atingiu 179,71 casos por 100 mil habitantes, com cerca de 2500 mortes.

A censura permitiu que a epidemia se alastrasse descontroladamente, afetando inicialmente áreas desfavorecidas e posteriormente atingindo regiões mais nobres de São Paulo.

O Hospital Emílio Ribas, principal referência para tratamento, chegou a internar cerca de 1200 pacientes com meningite meningocócica. Surtos também foram registrados em outros estados, como Rio de Janeiro, Bahia e Distrito Federal.

A criação do Sistema Nacional de Vigilância contra a meningite

Somente em 1974, com a substituição do presidente Emílio Médici por Ernesto Geisel, e o reconhecimento público do problema, a ditadura militar agiu para conter a epidemia.

Foi criado o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica e a Comissão Nacional de Controle de Meningite. Escolas em São Paulo se transformaram em hospitais de campanha e os Jogos Pan-Americanos foram transferidos para o México.

As medidas de controle, iniciadas três anos após o início da crise, enfrentaram desafios logísticos enormes. Com uma população de aproximadamente 90 milhões de habitantes, o Brasil precisava vacinar cerca de 80 milhões de pessoas com a vacina meningocócica AC.

A falta do produto levou o governo a negociar com o Instituto Pasteur Mérieux, da França, e resultou na criação do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) em 1976. A instituição, com apoio do economista Vinícius da Fonseca, passou a produzir a vacina em larga escala.

A campanha de vacinação em massa começou em 1975, abrangendo todas as faixas etárias e começou por São Paulo. Filas enormes foram registradas para a vacinação, agilizadas pelo uso da pistola de vacina. Em 1976, os casos começaram a diminuir e em 1977 a situação estava normalizada.

Estima-se que ocorreram cerca de 67 mil casos de doença meningocócica entre 1971 e 1976, com 40 mil apenas em São Paulo. A falta de sistemas de informação torna esses números controversos. Esse episódio histórico destaca a importância da vacinação para evitar novos surtos e epidemias, ressaltando a necessidade de manter altas taxas de cobertura vacinal.

Conclusão

Houve um aumento significativo nos casos de meningite entre idosos, sendo importante considerar a subnotificação durante os anos de 2020 e 2021, devido à pandemia de COVID-19.

De qualquer forma, a história das epidemias de meningite no Brasil, especialmente a grande crise enfrentada na década de 1970, oferece importantes lições que podem ser aplicadas aos novos episódios de meningite em idosos entre 2018 e 2023.

A resposta eficaz às epidemias requer reconhecimento precoce, ação coordenada e medidas preventivas robustas. O exemplo da década de 1970 ressalta a importância do reconhecimento público do problema e da implementação de sistemas de vigilância epidemiológica ágeis.

Além disso, destaca a necessidade de investimentos em pesquisa e produção de vacinas, bem como em campanhas de vacinação, especialmente os grupos de risco.

Para evitar novos surtos e proteger a saúde da população, é fundamental aprender com os erros do passado e garantir uma abordagem proativa e abrangente no enfrentamento da meningite e outras doenças infecciosas.

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