Os números da COVID relatados à Organização Mundial da Saúde (OMS) impressionam, apesar dos casos subnotificados.
Foram mais de 774 milhões de casos globalmente, com 38 milhões registrados no Brasil, representando 4,9% dos casos totais. As mortes globais alcançaram 7 milhões, com 708.000 ocorrendo no Brasil, cerca de 10% do total.
Veja as estatísticas até 31 de dezembro de 2023:
Como é possível ver, a COVID-19 teve um impacto devastador no Brasil e também no mundo. Essas estatísticas destacam a severidade da pandemia no Brasil, evidenciando a gravidade da situação e os desafios enfrentados para conter a propagação do vírus e mitigar seus efeitos na população brasileira.
Desde fevereiro de 2020, a OMS tem concentrado esforços para reduzir a morbidade, com medidas como prevenção da propagação do SARS-CoV-2, vacinação para prevenir infecções e formas clínicas graves e redução da mortalidade.
Apesar da resposta do Sistema Único de Saúde (SUS), o Brasil enfrenta desafios na coordenação entre as diferentes esferas governamentais.
Além dos muitos casos e mortes, a COVID-19 é considerada uma doença crônica com alta incidência de problemas de saúde e mortes, embora seja frequentemente ignorada por governos, pesquisadores, profissionais de saúde, sociedade em geral e pessoas afetadas.
A condição clínica, originalmente conhecida como “COVID longa”, foi oficialmente reconhecida pela OMS em agosto de 2020 e definida como uma “condição pós-COVID-19” em indivíduos com infecção provável ou confirmada pelo SARS-CoV-2.
Geralmente, as pessoas relatam sintomas persistentes após três meses da infecção e com duração mínima de dois meses, sem explicação por outro diagnóstico médico.
A estimativa de pessoas afetadas pela COVID longa chega a 75 milhões no mundo e 4 milhões no Brasil, podendo acontecer até 24 meses após a infecção pelo SARS-CoV-2.
Esse quadro afeta pessoas de todas as idades, sendo mais comum em mulheres adultas com diabetes tipo 2 ou em idade avançada, com outras condições de saúde, sem estar completamente vacinadas contra a COVID-19 ou de baixa renda.
No entanto, mais de 30% dos afetados pela COVID longa podem não apresentar condições de saúde pré-existentes.
Veja as estatísticas sobre a COVID longa no Brasil:
O fato de mais de 30% dos casos não apresentarem condições de saúde pré-existentes mostra o quanto é complexo e de forte impacto generalizado da COVID longa na população brasileira.
A definição, diagnóstico e manejo da COVID longa representam desafios contínuos, especialmente na compreensão dos fatores de risco e dos mecanismos envolvidos em sua origem.
É crucial priorizar a superação das barreiras persistentes nos sistemas de saúde para diagnosticar e fornecer cuidados de longo prazo às pessoas afetadas pela COVID longa. Além disso, é essencial realizar uma avaliação e monitoramento do impacto econômico decorrente dessa condição.
A compreensão aprofundada dos aspectos-chave da COVID longa, juntamente com a melhoria dos serviços de saúde para o acompanhamento desses pacientes, são passos fundamentais para lidar de forma eficaz com essa questão de saúde pública.
Até dezembro de 2023, as pesquisas da UFPel e UFRGS revelaram que a vacinação incompleta contra a COVID-19 aumentava o risco de desenvolver a COVID longa.
A falta de doses vacinais eleva em 23% a probabilidade de sintomas persistentes, afetando três em cada quatro pacientes infectados. Mulheres tendem a relatar mais sintomas prolongados, como fadiga e dores de cabeça.
Os pesquisadores acompanharam mil pacientes de 2020 a 2023 para observar os efeitos de longo prazo do vírus. A condição crônica resulta em perda de produtividade e sobrecarga nos sistemas de saúde, especialmente em países com infraestrutura limitada.
No Brasil, é fundamental implementar políticas estratégicas que ampliem o acesso aos serviços de saúde e às iniciativas de vacinação do SUS, especialmente na atenção primária, e que fortaleçam os sistemas de educação e seguridade social, visando reduzir as disparidades socioeconômicas.
É crucial garantir um financiamento adequado à saúde para prevenção, diagnóstico e tratamento abrangente, aliado a políticas públicas interdisciplinares, como parte de um objetivo democrático para superar o modelo de austeridade econômica e expandir os recursos e a capacidade de gestão do SUS.
Essas medidas são essenciais para uma resposta nacional eficaz à COVID longa, que se tornou um desafio crítico de saúde pública no SUS. É necessário integrar suporte para mitigar os impactos diretos e indiretos dessa condição nas pessoas afetadas, suas famílias, comunidades e na sociedade em geral.
Recapitulando a necessidade de políticas estratégicas:
Sobre o financiamento adequado:
Apesar da declaração da OMS sobre o término da emergência global da COVID-19 em maio de 2023, o impacto da COVID longa continuará a ser significativo. Isso representa um grande desafio à continuidade das pesquisas e à visibilidade dessa condição, especialmente em áreas de alta vulnerabilidade social.
É essencial priorizar, portanto, o acesso oportuno e especializado ao diagnóstico e aos cuidados de longo prazo para os afetados pela COVID longa, abordando tanto os aspectos psicológicos quanto os físicos e combatendo o estigma associado a essa condição.