Você recebeu em seu consultório um paciente que questionou um tratamento com base nas pesquisas que fez na internet? A cada dia que passa, esse tipo de situação tem se tornado mais comum. Afinal, a tecnologia está causando reais mudanças na relação entre médicos e pacientes.
Por exemplo, estima-se que sejam realizadas aproximadamente 70 mil pesquisas por minuto no Google relacionadas à saúde. Além disso, muitos processos que antes eram realizados por profissionais da saúde, agora podem ser feitos por máquinas.
Como lidar com essas mudanças? Até onde a tecnologia está beneficiando ou atrapalhando a relação médico-paciente? É sobre isso que falaremos hoje.
De acordo com a pesquisa “A relação médico-paciente sob a influência do referencial bioético da autonomia”, publicada na Revista Bioética, do Conselho Federal de Medicina (CFM), o acesso à informação tem afetado diretamente a autonomia dos pacientes e dos médicos.
Segundo 56% dos entrevistados, é comum que os pacientes cheguem à consulta com informações pesquisadas na internet. Mas qual o efeito desse hábito para a relação entre médicos e pacientes?
Mais de 85% dos pesquisados acreditam que buscar conhecimento na internet pode aumentar a autonomia do paciente.
Por outro lado, 66% dos entrevistados declaram que quando o paciente chega ao consultório com pesquisas da internet, isso não interfere em sua autonomia como médico; enquanto 32% afirmaram o contrário.
Como resultado, a relação entre médico e paciente se torna mais complexa, já que essa prática pode gerar uma desconfiança mútua.
Mesmo assim, a maioria dos pesquisados aprova que os pacientes busquem informações sobre sua saúde na internet, pois além da autonomia, esse hábito pode aumentar o envolvimento do paciente na tomada de decisões, o que também pode melhorar seu tratamento.
Com relação aos avanços tecnológicos na área de terapia e diagnósticos, a pesquisa também aponta que é pouco provável que esses métodos substituam a relação presencial entre paciente e médico. 90% dos entrevistados acredita que essa interação sempre será necessária, independente dos processos na medicina. Os outros 10% afirmam que a relação presencial pode perder a importância com o tempo, mas que ela sempre existirá.
Mas, será que as mudanças tecnológicas podem ter efeitos negativos na relação médico-paciente?
Não é raro ver pacientes pesquisando sintomas na internet ou usando aplicativos para monitorar condições de saúde. De fato, essas ferramentas podem aumentar o conhecimento e o controle do paciente sobre a sua saúde. Em alguns casos, elas podem até estimular hábitos saudáveis, como a prática de exercícios.
Entretanto, um estudo da Edith Cowan University, da Austrália, apontou que os resultados de busca de sintomas do Google são corretos em apenas um terço das vezes. Afinal, no Brasil não há nenhum sistema de verificação da qualidade dos sites sobre saúde.
Por um lado, percebe-se que o acesso à informação de qualidade pode aumentar a autonomia dos pacientes, tornando-o mais consciente e ativo no tratamento e no autocuidado; por outro, vemos que informações de origem duvidosa ou inadequada para certa condição clínica podem agravar o quadro de saúde de um paciente.
Em alguns casos, o excesso de informação, mesmo que de qualidade, pode gerar mais ansiedade, sofrimento e estresse, já que as pessoas tendem a acreditar em diagnósticos graves e raros para queixas comuns.
Mas como as informações disponíveis na internet podem causar mudanças na relação entre médico e paciente? Quando uma pessoa se torna um “especialista” em um determinado assunto, isso pode criar um desequilíbrio no relacionamento vertical entre médico e paciente, quando questiona-se a autoridade e formação do profissional.
Entretanto, alguns avanços tecnológicos podem melhorar significativamente a interação com os pacientes. Por exemplo, com auxílio da inteligência artificial, os profissionais da área da saúde ganham mais tempo para atender os pacientes, pois algumas tarefas burocráticas são automatizadas.
Além disso, o uso de equipamentos e softwares na medicina tornam os diagnósticos mais precisos e rápidos, ajudando o médico a tomar melhores decisões. Isso empodera os médicos, pois permite que eles foquem no que realmente gostam de fazer: cuidar dos pacientes.
De fato, a tecnologia está causando grandes mudanças na relação entre médicos e pacientes – e elas podem ser negativas ou positivas. Então, como os profissionais da área da saúde podem lidar com esse novo modelo de interação?
Com o passar do tempo, é inevitável que os pacientes tenham cada vez mais acesso às informações sobre saúde. Para evitar que essas pesquisas na internet sejam mal interpretadas, converse com seus pacientes. Peça que ele mostre para você a sua pesquisa, analise os dados com ele e tire suas dúvidas.
Lembre-se: você não precisa se sentir ofendido porque um paciente pesquisou sobre seus sintomas ou condição clínica antes de uma consulta. Ele está apenas preocupado com sua saúde, mas não sabe onde buscar informação confiável.
É claro que nem sempre é possível analisar toda a pesquisa junto ao paciente. Mas, quando ouvimos o que ele tem a dizer, tentando entender suas preocupações, é mais provável que ele aceite nossa opinião profissional e nos encare como uma fonte de informações confiáveis.
Outra forma de evitar que ideias falsas atrapalhem a saúde dos seus pacientes é por ser uma fonte de esclarecimento. Você pode fazer isso por indicar sites e outras referências que considera confiáveis. Além disso, você também pode usar suas redes sociais para divulgar conteúdo de qualidade sobre a sua área de especialização e tirar dúvidas comuns da população.
Por fim, não tente bloquear as mudanças causadas pela tecnologia. Elas estão acontecendo e vão só aumentar. Ignorá-las pode ser prejudicial tanto para a sua carreira como para os seus pacientes. Então, invista nos avanços tecnológicos e utilize-os ao seu favor.
Não se esqueça de se juntar à Medictalks e ajude a compartilhar conhecimento e experiência com outros profissionais da saúde do país. Assim, as mudanças na relação entre médicos e pacientes serão apenas para melhor!
